COMO SOBREVIVER NO MERCADO DE TRABALHO DEPOIS DOS 50 ANOS

por Cristina Balerini *

O mercado de trabalho está cada vez mais restrito. Profissionais extremamente qualificados encontram dificuldades de recolocação e muitos optam por uma carreira solo como única alternativa. E para os profissionais que passam da faixa dos 50 anos, essa realidade é ainda mais difícil. Quais opções esses profissionais têm? Perder o emprego torna-se um fardo ainda mais pesado para quem passou dos 50. As dúvidas são muitas: como mostrar ao selecionador que você tem garra e disposição para o trabalho? O que colocar no currículo? Como negociar o salário?

Segundo o consultor Rodrigo Peixoto, do Grupo Catho, as empresas estão em uma situação confortável, pois existem muitos profissionais para poucas oportunidades no mercado de trabalho e automaticamente as empresas ficam com o privilégio de escolher os melhores profissionais, ou seja, os que possuem mais qualificação e que aceitam trabalhar com salários menores.

Os profissionais que são alvo de contratações ainda são os mais jovens, na faixa etária de 18 a 39 anos. Os mesmos são cobiçados por aceitarem trabalhar com salários menores, já que estão no início da carreira profissional; logo os profissionais com idades acima de 40 anos ficam descartados, na maioria das vezes, por serem considerados muito caros devido à ampla bagagem profissional que possuem.

Mas o quê fazer para se destacar perante os mais jovens, já que a concorrência chega a ser desleal?

Peixoto acredita que o profissional maduro deve demonstrar disponibilidade para atuar como prestador de serviços, pois desta maneira ele se torna bem mais interessante para a organização, já que não sairá tão caro e ainda contribuirá com sua experiência. “Uma outra sugestão é buscar vagas em empresas de pequeno porte, pois estas muitas vezes precisam da experiência profissional para crescer no mercado e não possuem estrutura para investir no treinamento e desenvolvimento de um profissional recém-formado”.
Quando a demissão bate à porta
Infelizmente, é uma prática um tanto quanto comum demitir o funcionário mais velho e contratar um mais jovem, com custo menor. Isso porque o funcionário com mais tempo de casa, claro, vai obtendo aumentos salariais e ficando cada vez mais caro. “Com isso, muitas vezes ele acaba se tornando muito caro para empresa. Dependendo de quanto tempo ele está na empresa, os aumentos podem ter sido tantos, que suas atribuições e responsabilidades se tornam inferiores. É importante procurar aumentar suas responsabilidades de acordo com os aumentos salariais, para não se tornar muito caro para a empresa, evitando, assim, que sua vaga seja ocupada por um profissional mais jovem e, naturalmente, mais barato”.

O que muitas vezes ocorre, também, é ser “fritado” pela empresa quando se chega a uma idade mais avançada. Portanto, fique atento às atividades realizadas na empresa e ao salário. “Caso tenha um salário alto, o profissional deve continuar com as mesmas atribuições referentes aos salários anteriores, mas é importante que o executivo reveja suas funções na empresa, pois isto pode ser um risco, uma vez que o empregador pode demiti-lo por ser um profissional caro. Recomendo que, caso o profissional maduro perceba que isto está acontecendo, procure ser mais pró-ativo, busque responsabilidades, atualize-se, para que assim seu salário seja compatível com suas atribuições na empresa”, avalia a consultora Patrícia Leutério.

Buscando uma recolocação
Como o profissional pode sobreviver no mercado? O que ele deve fazer para conseguir uma vaga? O que ele deve evitar colocar no currículo?

Devido à grande concorrência pelas poucas oportunidades, o ideal é que o profissional acompanhe as necessidades do mercado de trabalho, se atualizando com MBA, pós-graduação e estudo de outros idiomas, principalmente o inglês, que hoje é essencial para qualquer um "sobreviver" no mercado.

“O currículo é uma ferramenta, um documento muito importante para a recolocação de qualquer profissional. É por meio dele que acontecerá o primeiro contato entre o profissional e a empresa, e como a primeira impressão é a que fica, deverá ser bem elaborado. O currículo deve mostrar por que você merece o cargo que está pretendendo; salientar que contribuiu em todos os empregos onde trabalhou; destacar que é organizado, ambicioso e que possui um objetivo definido. Conter frases curtas, de fácil leitura e comunicação. Exibir somente informações positivas. Aspectos marcantes no começo, e qualquer detalhe menos relevante no final do currículo. Faça atualizações permanentes no seu currículo”.

As informações que possivelmente poderão ser interpretadas como negativas, que ocorreram na vida profissional, deverão ser omitidas e discutidas no momento das entrevistas, somente se solicitado.

Entre as opções que o profissional que foi demitido neste período de sua vida encontram, a consultora Patrícia ressalta que a primeira coisa a fazer é não se acomodar, e sim, iniciar uma busca incessante por um novo emprego. “Esta busca pode ser feita de diversas maneiras. Uma ótima alternativa é procurar a ajuda de um consultor, especialista em outplacement, para que este o auxilie em sua recolocação, promovendo workshops e palestras sobre gestão e mercado, cursos de imersão em inglês e espanhol ou até mesmo oferecendo apoio psicológico”.

Uma outra saída também é optar por um negócio próprio. Com isso, ele pode voltar ao mercado de trabalho, atuando independentemente. Mas Patrícia alerta: “Essa é uma alternativa na qual deve-se pensar muito a respeito, pois exige grandes recursos financeiros e disposição para enfrentar diversos problemas que podem surgir”.

Outra dica dada por Peixoto se refere ao networking. “É importante que os profissionais, independentemente da idade, prestem mais atenção no cultivo da rede de contatos, pois o networking é uma grande confraria de pessoas que se conhecem e se respeitam. É um grande investimento, uma espécie de seguro”.

Existem saídas
Na opinião de Patrícia, as oportunidades para profissionais com mais de 50 anos, em geral, estão localizadas em empresas de pequeno e médio porte, pois estas não possuem estrutura para treinar profissionais jovens e precisam de executivos experientes, que não têm necessidade de treinamento e podem enfrentar problemas imediatamente. Muitas dessas empresas se beneficiam com a grande experiência desses profissionais maduros.

“Porém, em contrapartida, existem algumas empresas de grande porte que possuem uma postura mais humanizada em relação aos profissionais com mais de 45 anos”. Uma dessas empresas é a indústria farmacêutica Apsen. Dos cerca de 400 colaboradores, 34 estão acima dos 50 anos. Destes, 21 estão entre 55 e 71 anos. Todos ocupando dos cargos mais variados, desde diretores, assessores de diretoria, gerentes, supervisores a propagandistas e auxiliares.

Segundo o diretor de RH da Apsen, Floriano Serra, a empresa, ao contratar um profissional mais maduro, avalia alguns pontos, como disposição para o trabalho, bom humor, boa saúde e perfil profissional adequado ao perfil das funções. “Não inventamos vagas, pois o programa não é paternalista. Todo cargo exige determinadas competências do candidato. São essas competências que avaliamos.”

Como resultados, Serra cita a enorme experiência desses profissionais, que é intercambiada com os mais jovens, e uma fantástica disposição e motivação para o trabalho. A relação com os mais jovens é de absoluta integração, diz ele. “Esta capacidade de trabalhar em equipe, principalmente quando nela há mais jovens, é avaliada no processo seletivo. Há uma completa interação entre eles”.

Para o profissional que ainda não chegou à maturidade, é bom sempre ficar atento. “À medida que o tempo passa e o profissional se qualifica, este pode ocupar um cargo de liderança, como supervisão, gerência ou direção. Porém, com o avanço da idade, o profissional deve planejar mudar o cargo que pleiteia. Isso porque, com a idade avançada, na maioria dos casos, a disposição para atender uma variedade de problemas diminui e os empregadores não acreditam que um executivo bem maduro seja capaz de administrar muitas funções ao mesmo tempo. Porém, este profissional pode trazer na bagagem experiências para a solução de problemas específicos.”

O conselho dado por Patrícia é para que o jovem profissional tenha conhecimento sobre diversos assuntos, porém, com o avanço da idade, ela recomenda que este profissional procure se aprofundar em sua área de atuação, para que se torne um profundo conhecedor da área, agindo como um grande solucionador de problemas específicos”.

Boa sorte!!!
*Cristina Balerini é jornalista do Grupo Catho. Tel.: (11) 3177-0700, ramal 296.

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